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terça-feira, 12 de novembro de 2013

MENSAGEM PASTORAL


A túnica inconsútil
“Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração” (At 4. 32).
A Bíblia fala da túnica inconsútil de Cristo (Jo 19. 23-24), isto é, uma peça de roupa sem emenda e sem costuras, uma peça única, inteira, que não pode ser dividida, a menos que se rasgue e venha a perder a sua utilidade. Desde cedo os pais da Igreja (aqueles primeiros homens logo após a geração apostólica que receberam de Deus a missão de estruturar e organizar a vida eclesiástica, a liturgia e a teologia cristãs), estes homens eruditos e piedosos viram no sinal da túnica inconsútil o mistério da unidade da igreja de Cristo. Contudo, o conceito ou a verdade da unidade nem sempre foi bem entendido pelos cristãos. Há sempre a tentação de desejar a unidade em termos de uniformidade disciplinar, de governança ministerial, de liturgia e de cultura. Os grandes embates do cristianismo histórico que dividiram a Igreja e a empobreceram orbitaram nestas questões. As duas únicas possibilidades que validam uma divisão da igreja são: 1. Quando os hereges e suas heresias colocam em perigo a saúde espiritual da Igreja. Quando a malícia de seus erros doutrinários, infecciona o corpo de Cristo com ensinos destrutivos, desagregadores, rasteiramente humanos e egoístas, intentando oferecer fogo estranho no altar de Deus.  Quando a liderança fiel e ortodoxa, quando os discípulos fiéis começam a perceber a insinuação destas coisas é mais que seu dever, é uma questão de sobrevivência separar-se deste grupo ou excluindo-os ou deixando-os. Não valem nunca as divisões com base em desejos ou sonhos de autonomia e grandeza ministeriais. Muitas vezes as razões mais vis se encontram escondidas atrás de uma pretensa “visão” deDeus dada ao líder. Não por nada a Igreja evangélica é por vezes uma verdadeira babel. 2. A outra possibilidade de divisão seria para aumentar efetivamente a capacidade de uma Igreja em cumprir sua missão e atender as demandas de uma cidade, de uma região, de uma fronteira missionária. Isto pode acontecer quando a máquina eclesiástica, a burocracia religiosa e a política denominacional ou perdem o foco ou estão por demais pesadas e emperradas para fazer girar a roda da Evangelização. Neste contexto também delicado e que nunca os envolvidos saem da questão sem algumas machucaduras, ainda sim é possível compreender tal necessidade e justifica-la historicamente como tantas vezes já aconteceu em nossas denominações mais tradicionais. Mas, para a nossa vergonha não é exatamente o que temos assistido em nossos dias. Grande parte das novas expressões eclesiásticas vem no embalo do vergonhoso e pecaminoso desejo de se construir um império ministerial, sem a quem prestar contas, de colocar-se como a instância última em matéria de fé, moral, liturgia, doutrina e etc. É verdade que muitos “tele evangelistas” com a ostentação de seus bens, onipresentes na TV com ternos finos e adereços de luxo capturam os sonhos de felicidade de muitos. Evidentemente que não podemos generalizar, nunca. Há muitos que sinceramente abraçam um chamado subjetivo de Deus em sua alma e se decidem a viver com gratuidade o seu ministério em meio aos pobres, aos carentes, aos que nada tem e nem tem ninguém por eles. Graças a Deus que estes casos também existem, inclusive entre nós, aqui em Itapira, para a glória de Deus e a paz na Igreja de Cristo. São poucos, mas existem. Então, que unidade é a desejada por Cristo, sobretudo aquela expressada em João 17.21? : “para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Antes, é a unidade vital de cada cristão em particular com o Senhor Jesus. Esta união vital se dá por meio do novo nascimento e é cultivada por meio da piedade, da obediência, da santificação progressiva e por meio do compromisso com o Evangelho. Depois, esta unidade se dá com base na verdade objetiva da Palavra de Deus. Verdade sem mediações de revelações particulares ou costumes e tradições ainda que muito antigas e históricas. Jamais haverá unidade na Igreja por força da lei ou por função de um cargo ou carisma de um líder. Esta unidade só é possível se firmada na unânime convicção de que as Escrituras possuem tudo e suficientemente o que precisamos saber e conhecer para sermos salvos e santos. E por último, unidade no amor fraterno, sincero, respeitoso e na verdade. O amor não sobrevive, nunca, na mentira e no erro. Seja ele de natureza moral, religiosa ou doutrinária. Talvez a frase que Calvino costumava repetir aprendida de Agostinho ilustre um pouco o que quero dizer: “Na Verdade, Unidade. Na Dúvida Prudência. Em todas as coisas, porém, a Caridade”. Que Deus conserve sua Igreja em paz, unida a Ele e em comunhão entre nós.                                                                                                     
Reverendo Luiz Fernando Pastor da IPCI

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