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sábado, 13 de fevereiro de 2016

MENAGEM PASTORAL

Deserto adentro
“Portanto, guardarás esta ordenança, de ano em ano”          
(Êx 13.11)


A cada ano a liturgia traz em seu ciclo um tempo em preparação para a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Esse tempo se inicia com a quarta-feira de cinzas e se estende até a quinta-feira da paixão quando tem início o tríduo pascal que culmina no domingo de páscoa. É bem verdade que as Escrituras não aplicam aos cristãos a obrigatoriedade do preceito que diz: “Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao Senhor; nas vossas gerações e celebrareis por estatuto perpétuo” (Ex 12.14). Todavia, temos o entendimento neotestamentário de que todos os eventos que envolvem o Êxodo de Israel do Egito são na verdade, prefigurações e tipos do que deveria acontecer com os eleitos no Êxodo do Calvário, quando em Cristo passamos da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus e para a vida eterna. A prudência cristã julgou benéfico e proveitoso à piedade e a disciplina espiritual da igreja, desde muito cedo, a recordação litúrgica que marca a “instituição mística” da igreja de Cristo desde a quinta-feira da Instituição da Ceia, a paixão e morte da sexta feira, o descanso e o silêncio do sábado e finalmente a glória da ressurreição no domingo. Essa mesma prudência cristã levou a liderança da igreja antiga unir o tempo de preparação para o batismo e consequentemente a admissão à Eucaristia, por parte dos novos conversos, a um tempo forte de preparação espiritual que culminaria na celebração concomitante dos dois sacramentos por ocasião da páscoa. Essa disciplina do catecumenato antigo que perdurou do início do século II até por volta do ano 313, recebeu o nome de quaresma. Durante os quarenta dias que antecipavam a páscoa os catecúmenos passavam pelas provas do escrutínio, isto é, eram fortemente provados, examinados e recebiam as últimas instruções, e se aprovados, na madrugada de domingo de páscoa eram admitidos entre os irmãos por meio dos sacramentos. Com o fim do catecumenato antigo, a prática litúrgica de preparação para a páscoa foi preservada e se estendeu para todo o corpo da igreja indistintamente. Tornou-se numa espécie de grande retiro espiritual dos cristãos que são convidados a entrar misticamente como Israel no tempo do deserto para ter o seu coração preparado para as delícias da terra prometida e seus desafios: “...que no deserto de sustentou com maná, que teus pais não conheciam; para te humilhar, e para te provar, e afinal, te fazer bem...” (Dt 8.16). Também é um tempo em que o Espírito Santo, conduz pela liturgia da Palavra, a Igreja como a seu Senhor para ser tentada no deserto e vencer o seu inimigo (Mt 4). Claro está que tudo não passa de uma pedagogia espiritual e pastoral. É um modo sábio e inteligente de se aproveitar uma ocasião que a história e os costumes nos propiciam e isto de duas maneiras. Na primeira delas a igreja é convidada a fornecer conhecimento e informação escriturística à sua fé. É um tempo propício para voltarmo-nos para o Antigo Testamento e estudar com afinco aqueles maravilhosos eventos da páscoa antiga, aqueles antigos sacramentos e ritos, aquelas maneiras de celebrar e renovar a Aliança e todos os feitos e palavras que apontavam claramente para a necessidade e a vinda de Cristo. É um tempo precioso para aprofundarmos como igreja ainda mais em tudo o que ocorreu conosco, em nosso favor e em nosso lugar no madeiro do calvário. Um tempo para crescer no conhecimento das doutrinas da Graça ali, tão claramente expostas, e nos rendermos em fervorosa adoração.  A segunda maneira é a de aproveitar a comemoração da páscoa e os dias que dela se aproximam para justamente proclamar aos que não creem que a salvação, que a libertação só existe em Jesus. A páscoa e tudo o que ela envolve é antes de tudo uma oportunidade para a igreja dar as razões da sua esperança e testemunhar e compartilhar a sua fé ao mundo. Apesar de todas as polêmicas que envolvem se devemos ou não celebrar uma festa que nem é cristã em sua origem, ou se há ou não ordenança positiva no Novo Testamento para a igreja comemorar a data, o fato inegável é que não há acontecimento mais grandioso, mais glorioso e mais caro à igreja do que a Ressurreição de Cristo. Se é verdade que a celebrarmos em cada Ceia do Senhor, e que cada domingo é a páscoa dos cristãos, então, onde estaria o equívoco de fazer com mais solenidade uma vez ao ano? Analogicamente, a cada novo dia celebramos um dia a mais de vida, e somos gratos por isso. Mas, nada impede que a cada ano, numa data precisa, o façamos com mais festa e com mais alegria. Desejo que a Igreja Presbiteriana Central de Itapira aproveite estes dias que nos separam e ao mesmo tempo nos aproximam da páscoa para, ‘deserto a dentro’, peregrinarmos como povo de Deus rumo a terra prometida.

 Rev. Luiz Fernando 
 Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira
  

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