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sábado, 5 de março de 2016

MENSAGEM PASTORAL

Misericórdia
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1.3).

Misericórdia é uma das mais belas palavras das Escrituras, mas também uma das mais lindas em qualquer idioma.  Sua compreensão é tão rica que torna a explicação de seu sentido um desafio e tanto para qualquer um. Na Bíblia, por exemplo, de maneira especial no Antigo Testamento, ela diz respeito a uma ação de Deus que tem a ver com o processo de gestar e dar á luz. A Bíblia usa a palavra “entranhas” para falar deste ato curativo, restaurador e salvífico de Deus. Isto significa que quando Deus usa de misericórdia um processo de recriação, de novidade de vida, de gestação de uma nova natureza está a caminho. Deus não faz emendas, não cola o quebrado, Deus não remenda o rasgado, não! Ele sempre faz novas todas às coisas (Ap 21.5). A ação da misericórdia dá outra oportunidade, cria uma nova chance, chama para outra orientação da existência e fornece um novo caminho para ser seguido. Nesta nova condição o que é velho não tem lugar. Rancores, azedumes, peso na consciência, vergonha, discriminação e senso de inadequação também não. A misericórdia do Senhor é profundamente libertadora e promotora de vida e paz. Onde a misericórdia triunfa sobre o juízo os relacionamentos são refeitos e se tornam saudáveis. Onde a misericórdia abunda os laços familiares se tornam indestrutíveis, o pacto nupcial é protegido, o lar torna-se uma fortaleza para os filhos e um porto seguro para o casal. No ambiente onde a misericórdia é cultivada as pessoas não precisam interpretar papéis, nem se esconder atrás de máscaras ou fugir de quem são de fato. A misericórdia abraça  a  todos,  inclui  a  todos, encurta  as  distâncias  e  dásegurança para que cada personalidade se desenvolva e cresça como pessoa humana e filho de Deus. Conquanto a misericórdia nunca possa ser usada como conivência, tolerância ou cumplicidade com o pecado, ela nunca marginaliza ou abandona o pecador. Na misericórdia há sempre um convite gracioso e um apelo amoroso para a conversão e o abandono do mal. Vivemos todos numa sociedade julgadora, medrosa, acusadora e indiferente. O discurso do politicamente correto, os apelos para uma tolerância com base nas leis ou nas garantias das liberdades e das minorias não surtem todo o efeito esperado. Mesmo a educação, por mais imprescindível, não consegue atingir os seus fins. Isso não quer dizer que devamos desistir, claro que não. Antes, todos temos a obrigação de nos envolver na construção de uma sociedade mais pacífica, mais inclusiva e mais humana. Contudo, há uma parcela da humanidade que já vive e deveria apresentar a todos o que significa viver sob a ‘lei’ da misericórdia. Essa parcela da humanidade é a Igreja, lugar onde todos já experimentaram a misericórdia para todos os tipos de males e pecados. Na igreja, todos foram acolhidos por Cristo e n’Ele pelo Pai das misericórdias para sermos justamente libertados, renovados, recriados. Numa palavra, salvos. Na igreja, por causa do transbordamento da misericórdia por meio da cruz, já não existem diferenças e rivalidades excludentes. A misericórdia nos fez entender que não precisamos mais buscar a felicidade a qualquer preço e nem nos aprisionar em nossos desejos desenfreados. Agora, entendemos que nossa nova condição nos habilitou para o que é bom, justo, nobre, santo e aprendemos a honrar a Deus em nossos corpos, com os nossos bens e por meio do que fazemos para sobreviver, porque tudo foi tocado e transformado pelas entranhas de misericórdia de nosso Deus. Precisamos todos nos matricular na escola da misericórdia para exercê-la neste mundo doente e nesta sociedade infeliz. É preciso agir com misericórdia com o meio ambiente agredido e vilipendiado pela ganância. Agir com misericórdia para que este sistema econômico não marginalize e destrua a dignidade de homens e mulheres cada vez mais presentes em nossas ruas vítimas da miséria, da ignorância e dos vícios. O mundo ainda que não saiba, precisa de misericórdia e não há de encontra-la, a menos que a igreja a faça brilhar como o sol em zênite a fim de que as trevas que pairam sobre os corações desapareçam  e  um mundo  novo surja nascido das entranhas  da misericórdia de nosso  Pai.
Reverendo Luiz Fernando 
Ministro da Igreja Presbiteriana Central

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